Em um dos países mais desiguais do mundo, as mulheres são quem mais sofrem. Entre o grupo de maior vulnerabilidade, estão as mães que criam sozinhas seus filhos, também conhecidas como “mães solo” — as antigas mães solteiras.
Embora essa seja a configuração familiar que mais representa o país, mães solo têm mais dificuldades em encontrar emprego e serem aceitas socialmente. As estáticas reforçam o quão marginalizadas são, representando mais de 56% das famílias que vivem abaixo da linha da pobreza, segundo o IBGE. Entre as mulheres negras, o número sobe para 64,4%.
Seja por escolha, abandono do companheiro ou omissão do Estado, fato é que são mais de 11 milhões de mães que sustentam sozinhas seus filhos. Segundo o IBGE, 84% das crianças são criadas principalmente pela mãe ou por outra figura materna (avó, madrasta, tia).
Nas regiões metropolitanas e entre as mães de baixa renda, 93% dos casos são de maternidade solo. Na periferia, a chance é até 3,5 vezes maior do que no centro de São Paulo, de acordo com pesquisa do Estadão Dados com o Ibope, publicada em 2013.
No âmbito jurídico, mais de 100 mil processos de pensão alimentícia tramitam pelo país. São mulheres que lutam pela dignidade mínima dos filhos, enquanto trabalham, cuidam da casa, dos filhos e, eventualmente, de si mesmas.
Com essa realidade, onde estão os homens responsáveis por essas crianças? Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil tem 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento.
Achou assustador? Então saiba que a porcentagem de pais que criam sozinhos seus filhos é de apenas 3,6%. Mesmo em casos de guarda compartilhada (20,9%), a carga de responsabilidade que recai sobre mulheres é maior.
Segundo a doutora em Sociologia e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Sandra Machado, em texto para o Correio Braziliense, é preciso reconhecer o papel dessas mulheres no contexto social que vivemos. “Mães solo encaram preconceitos, enfrentam discriminações para encontrar trabalho. São milhões de mães solo no Brasil. Guerreiras, poderosas, lutam para criar brasileirinhas e brasileirinhos face à ausência do Estado, a raridade de creches, os preconceitos de toda ordem, em uma sociedade sexista, patriarcal, que agrava suas condições de vulnerabilidade”, afirmou.
Em pleno Dia das Mães, dar visibilidade para esse tema é também reconhecer a importância de criar meios e políticas públicas para diminuir as desigualdades enfrentadas dia após dia por essas mulheres.