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Dia da Mulher: baixa representação na política, jornada dupla e violência
Dia da Mulher: baixa representação na política, jornada dupla e violência
A Fundação 1º de Maio aborda alguns dos muitos desafios vividos por quem compõe a maior parcela da população brasileira: as mulheres.

Mesmo com o avanço da representação da mulher no ambiente político, a luta por um espaço mais justo e inclusivo para mulheres persiste. E neste dia 8 de março, a Fundação 1º de Maio aborda alguns dos muitos desafios vividos por quem compõe a maior parcela da população brasileira: as mulheres.

Em 2022, o Brasil se encontrava entre os países com menor representação feminina, ocupando o 142º lugar entre 191 nações citadas no mapa global de mulheres na política da ONU (Organização das Nações Unidas).

“Nossa missão é promover educação política para que a gente possa ter um país com mais igualdade de oportunidades. Por isso, a Fundação 1º de Maio se empenha tanto na formação política para mulheres, como o Lidera+. Só com mais mulheres na política vamos ter uma democracia plena, onde cada mulher tem liberdade de expressão”, diz Samanta Costa, presidente da Fundação 1º de Maio.

Quando pensamos na lutadas mulheres na política, precisamos também olhar para os desafios diários enfrentados por elas no seu cotidiano, como a dupla e até tripla jornada de trabalho, por exemplo, que é um dos fatores que contribui para que poucas mulheres tenham tempo disponível para participar ativamente da política.

Discriminação no mercado de trabalho em geral

Não só na política a mulher sofre com preconceito, discriminação e outros tipos de violência. Um estudo realizado pelo Instituto Patrícia Galvão, em 2020, aponta que 76% das mulheres já foram vítimas de algum tipo de violência no ambiente de trabalho, dentre as quais estão xingamentos, insinuações sexuais, convites indesejados para sair e elogios constrangedores.

“É lamentável que as mulheres ainda enfrentem situações de abuso, explícitas ou implícitas, em ambiente de trabalho. E ainda, quando a mulher faz algum tipo de denúncia formal, ela é desacreditada por muitos. É nosso papel informar sobre as diferentes formas de abuso e como elas se dão, porque muita gente ainda desconhece e só vai descobrir que que sofreu era um abuso muito tempo depois do ocorrido”, afirma Maria Izabel Simões, vice-diretora financeira da Fundação 1º de Maio.

Por tudo isso, Maria Izabel se orgulha em dizer que, na Fundação 1º de Maio, as mulheres compõem a maioria do quadro de funcionários. “Temos mais mulheres que homens aqui na Fundação e nossa fundação partidária tem uma mulher jovem e negra ocupando o cargo da presidência”, comemora.

Além das formas mais explícitas de assédio, o descrédito da capacidade das mulheres de executarem suas funções são constantes, muitas vezes esse questionamento se intensifica conforme a raça, sexualidade e classe social, em forma de supervisão excessiva durante a execução do trabalho ou depreciação das funções que exercem.

Na grande maioria dos casos de violência do trabalho, as vítimas não a reconhecem assim. Segundo o estudo, 36% das trabalhadoras dizem ter enfrentado preconceito ou abuso por serem mulheres, entretanto, quando apresentadas a diversas situações, esse número aumenta para 76%.

Com a normalização dessas práticas, o número de denúncias é baixo e quando são feitas, acabam não sendo levadas adiante, como a pesquisa revela ao pontuar que apenas em 38% dos casos a vítima soube que o agressor foi punido.

Violência contra a mulher impacta diretamente desempenho no trabalho

O estudo do Instituto Patrícia Galvão também mostra que para 7 em cada 10, as vítimas de violência doméstica têm um desempenho pior no trabalho, além de revelar que mais da metade desconfia de que uma colega seja vítima.

“É dever de todos acolher a mulher que sofre com violência, sem julgamentos, sem sermões. A mulher precisa se fortalecida, ser encorajada e impulsionada para se libertar de tudo o que a amarra nessas situações de violência. Num mundo machista, todas nós estamos sujeitas a violência, então, temos que estar sempre vigilantes e contar uns com os outros”, endossa Andrea Envall, diretora financeira da Fundação 1º de Maio.

Conforme a pesquisa Visível e invisível da DataFolha, quase 51 mil mulheres sofreram violência diariamente em 2022, o equivalente a um estádio de futebol lotado. Além disso, 45% das vítimas não fizeram nada após sofrer um episódio mais grave.

O medo de realizar denúncias vem como um resultado da formação de uma sociedade patriarcal, na qual mesmo diante de crimes graves contra a existência das mulheres, muitos homens saem impunes. Isso também se reflete no ambiente político.

Violência de gênero na política

Por mais que a participação da mulher na política tenha aumentado, graças a obrigatoriedade de cotas para mulheres e programas de incentivo, a presença das mulheres na política ainda é, infelizmente, ínfima. Um exemplo disso é que, em 134 anos de República, o Brasil teve apenas uma presidente eleita.

As mulheres que se lançam na política têm que lidar com a misoginia quando atacadas, seja por adversários ou mesmo pela população. Sua moral, orientação sexual, físico, condição mental é sempre questionada ou colocada em pauta, o que não aconteceria com homens, por exemplo. Um levantamento feio pelo AZMina, o MonitorA, mostrou que só na primeira semana de campanha de 2022, houve 518 aparições de termos como louca, doida, desequilibrada, maluca, histérica relacionados às candidatas nas redes sociais; essas postagens ainda recomendam que elas “se tratem”, “seja medicadas” ou “se internem”, o que mostra que o estereótipo de loucura e histeria continua sendo uma das principais formas de controle sobre as mulheres. Por essas e outras situações, mulheres são desencorajadas a participar dos processos eleitorais por causa do machismo e a resistência às candidaturas femininas.

Assédio, descrédito, constrangimento, interrupções de falas e ameaças pela internet são apenas alguns exemplos dos obstáculos que tornam a permanência nos espaços políticos um verdadeiro desafio ao qual as mulheres resistem todos os dias.

 “Nessa última edição do Lidera+, a questão da violência de gênero figura como principal pano de fundo. Quantas de nós não foram silenciadas ou sofreram alguma tentativa de interrupção?” questiona Samanta Costa.

Dupla jornada também é obstáculo

Outro desafio que permeia as mulheres, na política ou fora dela, é a dupla jornada de trabalho, que faz com que ao fim do expediente de trabalho formal, elas ainda tenham que dar conta do trabalho doméstico. Essa carga aumenta mais se a mulher em questão for mãe.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que, em 2021, as mulheres dedicam 21,4 horas semanas aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos. Já os homens dedicam apenas 11.

A sobrecarga de trabalho afeta as mulheres psicologicamente e também as impedem de desenvolver e participar mais dos espaços de poder. Dessa forma, dificulta sua participação em espaços políticos.

O incentivo a presença feminina no ambiente político

Apesar dos desafios diários de ser mulher na política, uma pesquisa realizada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em 2022, apontou que as mulheres são 45,99% das filiadas à partidos políticos. Mas, embora o dado aponte um avanço, apenas 33% das candidaturas nesse mesmo ano eram femininas, das quais 15% foram eleitas.

As políticas públicas de incentivo à participação feminina ainda são poucas e muito recentes. A cota de 30% do Fundo Eleitoral para candidatas mulheres, por exemplo, só passou a existir em abril de 2022; a questão se repete em relação às leis que protejam as mulheres nesses espaços. A violência política de gênero só passou a ser considera crime nas eleições de 2022, de acordo com a Lei 14.192/21.

“Nos orgulhamos em promover um projeto tão enriquecedor quanto o Lidera+. Ele não é apenas um programa de formação política, mas um catalisador dessa energia propulsora que são as mulheres. Todos os dias temos que encarar uma onda gigante e remar contra a maré. Então, enquanto fundação partidária, estamos muito satisfeitos em proporcionar à sociedade esse programa que não só capacita tecnicamente, mas encoraja cada uma das alunas. E não queremos parar por aí, temos muitos outros projetos em vista para o fortalecimento das mulheres na política”, comemora Samanta Costa.