Encerrada a XXXII edição dos Jogos Olímpicos realizados em Tóquio – evento adiado e realizado ainda à sombra de uma pandemia mundial – os olhares do mundo agora já de voltam para Paris/2024. O interregno entre as duas competições foi abreviado para três anos e, decerto, várias disputas particulares realizadas no Japão também serão repetidas na França.
Com a evolução dos tempos, os jogos olímpicos ganharam um bruto olhar comercial, onde o desempenho dos atletas atrai patrocínios milionários e nos bastidores de cada campo, quadra, pista, piscina, há um forte jogo entre as grandes empresas de material esportivo. Porém, indaga-se: e a essência dos jogos? Onde estão os preceitos olímpicos originais? Perderam-se nesse caminho entre a antiguidade/mitologia e a era moderna?
A história registra que os primeiros jogos olímpicos da humanidade ocorreram na Grécia, em 776 a.C., pelas mãos de Hércules em celebração ao pai, Zeus. Tinha caráter religioso de culto aos deuses e, como costume à época, animais eram sacrificados a cada abertura dos jogos. Os reis de Esparta e de Pissa promoveram uma trégua na Grécia com um pacto realizado no templo de Hera, no santuário de Olímpia, originando o termo “Olimpíadas”.
Os jogos foram celebrados até o ano de 394 d.C., quando foi banido pelo imperador romano Teodósio, por questões religiosas. Depois de um longo período adormecido, o francês Pierre de Frédy, conhecido pela nobreza como Barão de Coubertin, teve a iniciativa de reeditar os jogos olímpicos sob o lema “o importante é competir”.
Para ele, aquele evento deveria se tornar o espelho da união dos povos. E assim, em 1896, a mesma Grécia foi berço na primeira edição dos jogos da “Era Moderna”. A partir daí, com exceção dos períodos em que a Europa esteve envolvida nas duas Guerras Mundiais, o mundo se reuniu para festejar a paz entre as nações por meio do esporte de quatro em quatro anos.
Com o passar do tempo e a realização de cada nova edição, os jogos olímpicos foram ganhando novos contornos e atraindo nações, assim como foram surgindo símbolos a representar os ideais do olimpismo, como os arcos, a bandeira, a tocha, as medalhas e os mascotes.
Após trinta e duas edições e em conseqüência do capitalismo mundial, os Jogos Olímpicos tornaram-se um espetáculo, exigindo investimento das nações para uma competição de alto rendimento, afastando-se do ideal olímpico de Coubertin. Inegavelmente, uma olimpíada hoje possui a face de um evento muito mais comercial do que conceitual.
Curiosidades olímpicas
- Os arcos olímpicos são o principal símbolo dos jogos olímpicos e a marca do Comitê Olímpico Internacional (COI). São cinco arcos coloridos entrelaçados que representam cada continente: Europa (azul), Ásia (amarelo), África (preto), Oceania (verde) e Américas (vermelho);
- A bandeira olímpica foi hasteada pela primeira vez em 1920, nos jogos da Antuérpia (Bélgica), e a cada fim de evento é passada para a próxima cidade-sede;
- A tocha olímpica simboliza o elo entre os Jogos da Antiguidade e os Jogos da Era Moderna, anunciando o início dos Jogos e a convocação do mundo para celebrar a paz;
- As medalhas são a materialização do prêmio em ouro, prata e bronze destinado aos três primeiros lugares em cada competição;
- O lema “Citius, Altius, Fortius” (o mais rápido, o mais alto, o mais forte, em latim) é inspirado na superação dos limites;
- Os mascotes são expressões de alegria e festa do povo anfitrião e são usados desde os Jogos Olímpicos de Inverno de 1968, que ocorreu em Grenoble, na França. O mais famoso deles foi o ursinho Misha, dos Jogos de Moscou/1980.
Desigualdade entre atletas
É fato que no universo que compõe uma vila olímpica iremos encontrar, ao menos, três tipos de atletas. Aqueles do primeiro time, com patrocínio forte e investimento e que vão em busca da medalha de ouro; um segundo grupo que, também com incentivo, em especial de marcas esportivas, focam em conquistar uma medalha, não importando o lugar no pódio; e um terceiro quadro, que conquistam o índice olímpico, mas estão lá para participar dos jogos e tentar manter ou conseguir um patrocínio.
Mas e o ideal olímpico? Para chegar a uma Olimpíada, o atleta passa por toda uma preparação, seja ela perfeita, seja ela mais singela. Somente ele sabe o valor de estar naquela competição. Para se chegar ao conto de fadas precisou passar por uma dura realidade. São tantos exemplos de superação – poucos premiados com uma medalha -, mas que a sua participação representando seu país é marca indelével para a sua vida. Não é justo se julgar um atleta apenas pelo objeto dourado, prateado ou bronzeado que se conquista.
Em tempos de pandemia, em que as dificuldades mundiais de treinamento, sejam individuais ou coletivos foram tamanhas, e até mesmo com atletas sendo acometidos pelo novo coronavirus, sofrendo algum tipo de sequela ou mesmo restrição do próprio corpo na busca por uma melhor performance, ser julgado por um prêmio não nos parece justo.
Quantos exemplos, ao longo de todas essas edições, em que um atleta foi ovacionado pelo público mesmo não estando entre os três primeiros lugares? O que importa é estar ali, devendo ser destacada a oportunidade do competidor em participar daquela festa do esporte, palco esportivo iluminado retrato do seu esforço pessoal, e ao fim de sua participação, independente do resultado, poder carregar no peito o lema de que mais importante do que vencer é participar.