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Mulheres negras no poder pelo combate à discriminação racial
Samanta Costa

Samanta Costa

Presidente da Fundação 1º de Maio

Mulheres negras no poder pelo combate à discriminação racial
Lidera+ é uma iniciativa que visa inserir e encorajar mais mulheres na vida política. Foto: Felipe Damper.

Em 2022, tivemos o maior número de mulheres negras eleitas no Brasil: cerca de 91 mulheres pretas e pardas foram eleitas como deputadas, o maior número na história do nosso parlamento. Porém, esse número ainda é muito baixo e representa apenas 8% do Congresso Nacional. Ainda, se pensarmos que 56% da nossa população se autodeclara como preta ou parda, temos um longo caminho a seguir.

O perfil dos candidatos eleitos como deputados federais em 2022, continua o mesmo de sempre: homens, brancos e ricos. Eles representam 72% da Câmara, enquanto pretos e pardos apenas 26%. Essa conta não fecha.

As mulheres, sobretudo as mulheres negras, ainda enfrentam uma avalanche de empecilhos para entrar na política e o maior deles é o trabalho do cuidado, delegado às mulheres na maior parte dos lares, deixando-as sobrecarregadas e sem tempo para assumir qualquer outra tarefa que não envolva o cuidado de sua família; além disso, as mulheres negras são parte mais pobre do Brasil  – em 2019, o IBGE levantou que 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza – então, além de não ter tempo para se dedicar a alguma causa política, há a falta de dinheiro para se investir na política institucional. E, por último, essa mulher é descredibilizada por não ser vista como capaz de exercer algum cargo político.

Vivemos em um ciclo que precisa ser quebrado. Com menos mulheres negras no poder, temos menos políticas públicas criadas especificamente para essas que sofrem tripla discriminação: por ser mulher, negra e pobre.  A necessidade de termos propostas e leis mais diversas no país urge e precisa corresponder aos nossos quatro princípios fundamentais:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Na última edição do Lidera+, 45,8% das mulheres selecionadas para o módulo híbrido do programa se autodeclararam como negras e pardas. Este é um dado que nos enche o coração, porque sabemos que estamos na direção certo no caminho para uma sociedade mais livre, justa e solidária, que faz jus à Constituição e ao nome do nosso partido, o Solidariedade.

Mulheres são minoria na Câmara Federal, mas Lidera+, projeto da Fundação 1º de Maio, pretende reverter essa realidade. Na foto, participantes da 3ª edição do Lidera+ visitam o Congresso Nacional. Foto: Felipe Damper.

De acordo com um levantamento feito pela Organização Mulheres Negras Decidem, em 2020, nas campanhas municipais, tivemos 5% de candidatas negras eleitas como vereadoras, sendo 27,8% o total de negras na população brasileira. Neste ano, temos um grande desafio com as eleições: aumentar o número de mandatas negras eleitas nas Câmaras Municipais e Prefeituras. Esta é uma das principais formas de eliminar a discriminação racial do Brasil. Não podemos e não vamos nos acostumar com a ausência dessas mulheres no poder.