Em 12 meses – desde o início da pandemia do novo coronavírus – o preço dos alimentos subiu 15% no país, quase o triplo da taxa oficial de inflação do período, que ficou em 5,20%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foi a primeira divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) compreendendo 12 meses sob influência da pandemia, decretada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) no dia 11 de março de 2020.
Preço da cesta básica aumenta 29% em um ano em São Paulo
O preço médio em 28 de fevereiro de 2020 era de R$ 786,51, mas passou para R$ 1.014,63 em 26 de fevereiro deste ano, esse aumento afetou principalmente as classes C, D e E.
PREÇOS DOS ALIMENTOS EM ABRIL | |||
Segundo o Índice de Preços ao Consumidor de São Paulo – Fipe 2021/Abril | |||
1ª quadrissemana | Acumulado 2021 | Acumulado 12 meses | |
Óleo de soja | 0,01% | 5,05% | 91,88% |
Arroz | 0,64% | 3,75% | 63,22% |
Feijão | 1,19% | 0,02% | 23,52% |
Carne bovina | 1,55% | 3,56% | 31,62% |
Por grupo, foram constatadas as seguintes variações:
- alimentação passou de R$ 676,82 para R$ 893,56, com aumento de 32,02%;
- higiene pessoal foi de R$ 66,27 para R$ 74,26 (12,06%);
- limpeza, de R$ 43,42 para R$ 46,81 (7,81%).
Poder de compra da cesta básica nos últimos anos
Quantidade de cestas básicas adquiridas em relação ao salário mínimo:
O preço médio de São Paulo em 28 de fevereiro de 2020 era de R$ 786,51, mas passou para R$ 1.014,63 em 26 de fevereiro deste ano
Menor poder de compra do salário mínimo em anos
Em 1º de janeiro de 2021, o salário mínimo subiu de R$ 1.045 para R$ 1.100.
“Importante registrar que o salário mínimo é referência de rendimento para 50 milhões de pessoas no Brasil [cerca de 24% da população total], dos quais pouco mais de 24 milhões são beneficiários do INSS [aposentados ou pensionistas]; aproximadamente 12 milhões são empregados nos setores privados ou públicos; e quase 10,5 milhões são trabalhadores por conta própria”, explica a economista do Dieese, Daniela Sandi, ao Boletim de Conjuntura do Dieese nº 26.
Brasil tem 125 milhões de pessoas que não sabem se vão se alimentar bem
Insegurança alimentar atinge 6 em cada 10 domicílios brasileiros
Segundo estudo elaborado por universidades do Brasil e da Alemanha, mais da metade dos domicílios no país (59,4%) apresentaram algum grau de insegurança alimentar entre agosto e dezembro de 2020. Na prática, mais de 125,6 milhões de brasileiros não se alimentaram como deveriam ou já conviviam com a incerteza quanto o acesso à comida no futuro. “A insegurança alimentar é um retrato das desigualdades múltiplas interseccionais. Ela tem cor, tem gênero e ilustra um retrato do Brasil”, diz a professora de sociologia da Universidade Livre de Berlim, Renata Motta, que liderou a pesquisa, em entrevista para O Globo.
Durante a pandemia, 44% dos brasileiros deixaram de comer carne. Entre os alimentos saudáveis, esse foi o com a maior redução de consumo. Em segundo lugar, vêm as frutas, com 41%. A população também diminuiu o consumo de hortaliças e legumes em 37%.
Menos carne, mais ovo
O levantamento mais recente aponta que parte significativa dessas pessoas diminuiu o consumo de alimentos importantes para a dieta regular. A redução no consumo de alimentos saudáveis foi de mais de 85% entre as pessoas em insegurança alimentar.
Entre elas, 44% reduziram o consumo de carnes. O ovo foi o alimento com maior aumento de consumo, 18,8% na pandemia, o que mostra a possível substituição do consumo de carne, que teve a maior redução.
A insegurança alimentar é maior nos domicílios em áreas rurais (75,2%) do que em áreas urbanas (55,7%). Além de ser mais frequente em casas com um único responsável (66,3%), sendo ainda mais acentuada nos casos em que a responsável é uma mulher (73,8%), ou pessoa de cor parda (67,8%), e preta (66,8%).
A situação mais grave é no Nordeste, onde 73,1% dos lares registraram situação de insegurança alimentar. Em seguida, aparece a região Norte, com 67,7%. A região com melhor situação foi a Sul, mesmo assim, metade dos domicílios (51,6%) estavam em insegurança alimentar. Centro-Oeste (54,6%) e Sudeste (53,5%) também registraram números preocupantes
“No Brasil, isso acabou sendo potencializado, e foi potencializado por conta do câmbio. O alimento que a gente produzia no país, parte dos produtores resolveram deslocar parte da sua produção para o mercado internacional porque gerava uma rentabilidade maior. E isso gerou um aumento médio do alimento maior do que aquele que a gente viu em outras economias mundiais”, explicou a pesquisadora do estudo, Maria Andréia, em entrevista para o G1.
Estoques reguladores
Especialistas avaliam que os preços dos principais itens da cesta básica devem continuar elevados no Brasil. Variação cambial, período de entressafra e ausência de estoques reguladores eficientes seriam os principais motivos.
“Mas eu creio que como o governo tem uma visão mais liberal, tende a deixar que as relações de oferta e procura ocorram e o próprio mercado se regule”, explica o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Coimbra, ao Diário do Nordeste.
O economista Reginaldo Aguiar, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), defende que, se o Governo brasileiro estabelecesse cotas de exportação, como faz a União Europeia com o trigo em tempos de geada, por exemplo, o consumidor nacional não ficaria tão prejudicado pelo mercado externo. Em outras palavras, se o preço subir demais, limitará a exportação para proteger o mercado nacional.
“Qualquer país decente estabelece cotas de exportação para não desabastecer o mercado interno”, disparou Reginaldo Aguiar, em entrevista para o Diário do Nordeste, acrescentando que a lógica de negócios estaria suplantando a lógica social.
A Segurança Alimentar e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) deveriam ser garantidos a todos segundo o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), de 1948.