É imperativo que as mulheres ocupem espaços de decisão, especialmente na política
A presença e o papel das mulheres na política têm evoluído ao longo do tempo, mas ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a igualdade de gênero nesse campo fundamental da sociedade. Segundo a Inter-Parliamentary Union, o Brasil é um dos países com menor representatividade política feminina na América Latina, ocupando o terceiro lugar nesse ranking.
Nessa avaliação, nossa taxa de representação política feminina fica cerca de dez pontos percentuais abaixo da média global, e isso é uma realidade praticamente inalterada desde a década de 1940. Essa estagnação revela não apenas que estamos atrás de muitos países em relação à representatividade feminina, mas também que tivemos poucos avanços nos últimos anos.
De acordo com dados do IBGE, mais de metade da população brasileira (51,13%) é composta por mulheres, e segundo o Tribunal Superior Eleitoral, elas representam 53% do eleitorado. No entanto, as mulheres ocupam atualmente menos de 15% dos cargos eletivos. Essa disparidade é um reflexo alarmante da desigualdade de gênero que persiste em nossa sociedade.
Se almejamos uma sociedade verdadeiramente igualitária, é imperativo que as mulheres ocupem os espaços de decisão, especialmente na política. Esses locais de poder são cruciais para garantir que a voz das mulheres seja representada em todas as esferas de políticas públicas. Afinal, como podemos esperar políticas eficazes para esse público quando quem formula, analisa e executa essas políticas geralmente não são elas?
Se não houver mulheres presentes nessas discussões, quem irá falar em nome delas? A resposta é clara: ninguém. Portanto, a presença das mulheres em cargos políticos é fundamental para garantir que suas necessidades e perspectivas sejam levadas em consideração, seja em iniciativas de dignidade para a população carcerária feminina, em programas de cotas para mulheres no mercado de trabalho, ou em leis para reduzir a disparidade salarial de gênero em funções semelhantes. A ausência do público feminino nesses debates compromete a representação e a sensibilidade de políticas de gênero, criando um ciclo prejudicial.
Superar os desafios que as mulheres enfrentam na política requer esforços coordenados. A predominância de homens, em particular homens brancos e cisgêneros, frequentemente mais velhos e com mentalidades arraigadas de uma geração passada, é um obstáculo significativo.
É necessário encontrar espaço e respeito em meio a essas figuras, algo que, em um mundo ideal, não deveria ser uma dificuldade. No entanto, a realidade é que o machismo ainda prevalece. Iniciativas como o programa Lidera+, entre outras ações que capacitam e preparam mulheres para a política, desempenham um papel crucial nesse cenário.
Quanto mais mulheres estiverem prontas e tecnicamente preparadas para assumir cargos políticos, maior será a probabilidade de serem eleitas. Isso desencadeará um efeito dominó, com mais e mais mulheres ocupando os espaços que lhes pertencem por direito. Este é o caminho para uma política mais inclusiva e representativa, e um passo vital para a construção de uma sociedade igualitária.
As mulheres na política não apenas impactam diretamente a formulação de políticas, mas também servem de modelo para as gerações futuras. Quando meninas veem mulheres em posições de liderança, isso as inspira a buscar carreiras políticas e desafia as restrições de gênero que historicamente limitaram as oportunidades das mulheres.
A jornada para alcançar a plena igualdade de gênero na política é desafiadora, mas é uma luta que vale a pena para o benefício de todos. É um investimento no futuro de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as vozes são ouvidas e representadas em todos os aspectos da vida pública.
*Samanta Costa é presidente da Fundação 1° de Maio
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