Temos hoje 14,1 milhões de desempregados, segundo o IBGE. Destes, 6,749 milhões estão procurando emprego há mais de um ano e 3,8 milhões já estão sem trabalho há mais de dois anos. O volume representa 47,5% do total de desocupados e é o mais alto desde 2012. Os dados demonstram a elevação do desemprego de longa duração.
“Uma pessoa que fica dois anos sem emprego sofre algumas consequências. Ela vai mais rápido ao desalento porque procurar trabalho significa também ter custos, é mais difícil o retorno ao mercado de trabalho por diversos motivos, entre eles, a dificuldade de o trabalhador se manter tanto atualizado na questão profissional como manter sua capacidade de relações. A qualificação profissional se altera. Vai aumentando a dificuldade em se manter atualizado para as demandas dos empregos. Isso faz com que ou ele não consiga emprego ou tenha de se sujeitar a trabalhos aquém de sua qualificação, de sua experiência e de sua trajetória”, afirma o diretor-técnico do Dieese, Fausto Augusto Jr.
Causas:
1- Os trabalhadores desaprendem tarefas. Quanto mais tempo fora do mercado de trabalho, maior é o risco de perda de habilidades e desatualização dos profissionais, o que acaba gerando uma desigualdade entre os que buscam trabalho, de acordo com os prazos do desemprego.
2-O potencial de crescimento da economia no médio e longo prazo se reduz com perda de capital humano causada por trabalhadores desempregados por tempo muito longo.
3- A desocupação entre os jovens ficou em 29,5% no segundo trimestre deste ano, um alto volume de desempregados entre 18 e 24 anos, que já somam 4,2 milhões de desocupados nesta faixa etária. Como os primeiros anos de treinamento são essenciais ao desenvolvimento profissional, os jovens que iniciam suas carreiras em uma crise estarão em desvantagem duradoura, pois seus salários, oportunidades e confiança no local de trabalho podem nunca se recuperar totalmente.
4- Conforme a IDados, as mulheres são maioria entre os desempregados de longo prazo.
5- A esse exército de desempregados de longo prazo é necessário acrescentar os chamados desalentados, que depois de anos perambulando pelas ruas atrás de um posto de trabalho, perderam a esperança e desistiram de continuar procurando. São cerca de 6 milhões, segundo o IBGE, o que eleva o número total de desempregados no Brasil a mais de 20 milhões.
Descaminhos
Como não existe nenhuma proposta efetiva para geração de emprego e renda, apresentada pelo governo federal, há possibilidade de essas pessoas irem para uma situação de pobreza muito grave, dependendo de apoio de programas sociais ou de migrarem para a informalidade ou negócios por conta própria. O desemprego de longa duração é o último indicador que melhora com uma possível recuperação econômica.
Difícil atingir pleno emprego se está acabando nosso bônus demográfico.
“O bônus demográfico é o período do desenvolvimento demográfico de uma sociedade em que a taxa de crescimento da população em idade ativa (PIA), entre 20 e 64 anos, é superior à taxa de crescimento da população total (POP). Isto é, quando a taxa de crescimento da população de crianças, jovens e idosos é menor do que o crescimento da população em idade ativa.
No período do bônus demográfico, é possível o produto per capita crescer mesmo que o produto por trabalhador, a produtividade do trabalho, não se expanda. Basta que a população que trabalha cresça mais rapidamente do que a população total. A partir dos próximos anos a demografia não ajudará, vamos ter ônus demográfico. A única maneira de o produto per capita brasileiro aumentar será por meio da elevação da produtividade do trabalho”, segundo IBRE (Instituto Brasileiro de Economia, da FGV).
Covid-19 encurtou bônus demográfico no Brasil
Hoje, a PIA corresponde a 69,7% da população brasileira. São cerca de 148 milhões de pessoas em idade ativa e 64,4 milhões de dependentes (adolescentes de até 14 anos e idosos a partir de 65 anos). Dados do IBGE indicam, no entanto, que 14,1 milhões de pessoas estão desempregadas e 32,9 milhões estão subutilizadas no país. Em 2019 será o primeiro ano, desde meados dos anos 1970, em que a taxa de crescimento da PIA será inferior à taxa de crescimento da POP.
Precisamos melhorar a qualidade de nossa educação e melhor qualificação da força de trabalho para estimular a geração de empregos com a absorção de novas tecnologias, além de buscarmos novos investimentos na produção e desenvolvimento de todos os setores para eliminarmos o desemprego de longa duração no país.